Com um olhar atento sobre a forma de se comunicar do Judiciário aconteceu nesta quinta-feira, oito de março, em Brasília, o III Encontro Nacional de Jornalista das Associações Afiliadas à AMB. Também conhecido com Ejafa, o Encontro promoveu o debate entre os assessores de comunicação de 26 estados e tratou não só da cobertura tradicional como também sobre as inúmeras possibilidades surgidas com as novas mídias.
No período da manhã, a primeira palestra foi do jornalista Juliano Basile, que cobre as questões relativas ao Judiciário para o jornal Valor Econômico. Basile começou falando sobre as semelhanças e diferenças entre juízes e jornalistas para em seguida apontar a necessidade de simplificação na linguagem jurídica e, sobretudo, chamar atenção dos magistrados para a cobertura do que considere pontos controversos. “Eu sempre tento traduzir termos técnicos nas minhas matérias. O objetivo é que as matérias sejam lidas por um maior número de pessoas. Então, o juiz precisa entender que o jornalista simplifica, sim. Outra questão que precisa ser colocada é que a imprensa publica os fatos controversos”, explica o jornalista.
Basile destaca ainda a posição do STF como Tribunal onde a comunicação é ostensiva: “Não sei se o Supremo pode ser colocado como modelo, mas sem dúvida seria interessante se os Tribunais dos estados pudessem caminhar para um modelo próximo a este no sentido de permitir uma divulgação ampla de suas reuniões e julgamentos”, afirma o jornalista ao colocar que esta divulgação fortalece os próprios Tribunais. Por fim, Basile cita um voto do Ministro Menezes Direito que, mesmo avesso ao contato direto com os jornalistas, reconhecia a importância do controle social exercido pela mídia: “O preço do silêncio é menor do que o da livre circulação de idéias”.
Durante a tarde, Raul Pilati, diretor da In Press Porter Novelli falou sobre a construção de mensagens chaves para otimizar a comunicação. A outra palestra da tarde ficou por conta de Nino carvalho, consultor da In Press para a área de estratégia em marketing digital que falou sobre as peculiaridades da web 2.0. De forma incisiva, Carvalho salientou que a interação virtual com o usuário ou com o que ele chama de “e-cidadão” é um caminho sem volta: “A decisão de entrar na internet já foi tomada por você. O que lhe resta é saber o que fazer com isso”.
Apesar de chamar atenção para a importância do meio digital, Carvalho adverte que melhor que ingressar nas múltiplas redes sociais por impulso é ter um planejamento adequado para essa área sob pena de agir da forma errada e pagar um preço alto por isso.
A advertência do consultor firma-se nas duas principais características da web 2.0 que potencializam a interação entre os usuários que são a capacidade e resposta do usuário e a ausência de hierarquia entre os interlocutores em rede (que atualmente no Brasil é de 70 milhões de pessoas). “Não é possível limitar o acesso das pessoas à informação. O que você pode fazer é estar o mais próximo possível dessas pessoas para acompanhar esse fluxo e controlar possíveis erros”, explica.
Por fim, o Encontro foi encerrado com a fala do juiz Gervásio dos Santos, coordenador da Campanha Gestão Democrática do Judiciário que detalhou o processo de construção da campanha sobre Orçamento Participativo do Judiciário. Gervásio destacou a importância dos magistrados responderem a enquete (disponível no site da AMB) que servirá de base para a argumentação das necessidades da magistratura na hora da elaboração do orçamento feito pelos técnicos dos Tribunais de Justiça.
Os dados para essa argumentação serão levados pelos representantes da 1ª e 2ª instâncias da magistratura (resolução 70 – CNJ, art 2º, §4º) após serem processados pela AMB com base no total de enquetes respondidas. Segundo Gervásio a enquete traduz para perguntas simples e cotidianas indicativos importantes sobre as necessidades de cada vara: “Precisamos que pelo menos 20% dos juízes participem e respondam nossa enquete. Quanto maior o número de respostas mais fiel o perfil das necessidades e mais poderosa a ferramenta que teremos nas mãos”, ratifica.