“Boa Viagem é o lugar mais longe aonde este projeto já chegou”. Esta frase pronunciada pelo o juiz titular da comarca de Boa Viagem (a 217 km de Fortaleza) e coordenador do programa na cidade, Pedro Pia de Freitas, representa bem a o objetivo de se alargar os limites do conhecimento. É com esta meta que programa Cidadania e Justiça Também se Aprendem na Escola já atingiu todo o país; seja de maneira compacta (com a distribuição de cartilhas) ou de maneira estendida (com a aplicação de todas as fases da metodologia desenvolvida pelo projeto).

Neste sentido, para o juiz de Direito e coordenador do programa Roberto Bacellar é emocionante ver uma idéia nascida tão despretensiosamente, nos idos dos anos 90, chegar aos mais diversos cantos do país. Em relação ao lançamento do projeto em Boa Viagem, na última quarta-feira, dia 25 de março, Bacellar afirma: “Além de ser a primeira cidade do Ceará a desenvolver o programa, este é realmente o lugar mais distante aonde chegamos”.

Ao observar este fato, Bacellar fala sobre a flexibilidade do projeto em se adequar às mais diversas realidades: “A realidade sócio-cultural brasileira é muito diferente e exatamente aí está a grande riqueza de valores. Então, se o programa vai para uma reserva indígena, é preciso conhecer a realidade dessa reserva e o trabalho terá que ser adequado à cultura e ao espaço/tempo daquela localidade. Se estou aqui no sertão do Ceará ocorre a mesma coisa. É um programa é bem flexível. De acordo com a realidade de Boa Viagem os professores vão poder escolher uma metodologia mais apropriada à realidade local. Além do uso do gibi, eles podem realizar um concurso de redação, a conciliação de conflitos, um júri simulado etc.”

De acordo com a Secretária de Educação do município, Lucirene Castelo Branco, primeiro o projeto será implantado em cinco escolas da sede e depois irá se expandir para todas as escolas do município, atingindo um total de 12 mil alunos. “Com certeza, o Gibi além de trazer informações sobre a Justiça vai despertar no aluno o gosto pela leitura. Neste sentido, a gente pretende fazer uma ação diferenciada; primeiro vamos trabalhar com os diretores, depois com os coordenadores pedagógicos e finalmente partir para a sensibilização nas escolas”.

Em Boa Viagem, o auditório do Núcleo de Arte Educação e Cultura ficou lotado com mais de 300 pessoas que acompanharam empolgados o lançamento. Dentre o público, alunos da 4ª série da rede municipal falaram sobre o projeto. Para Lucas Sousa e Silva, de 9 anos, o programa é interessante porque fala sobre o mundo e sobre os direitos. “Gostei da cartilha porque é muito bom saber dos nossos direitos e deveres, saber sobre a Justiça”.

Segundo o vice-presidente de Direitos Humanos da Associação dos Magistrados Brasileiros, João Ricardo dos Santos Costa, o programa Cidadania e Justiça Também se Aprendem na Escola representa um “dominó positivo” na construção de uma sociedade melhor paras as futuras gerações. “Esta construção nós mesmos podemos observar com a mudança de alguns comportamentos em relação à cidadania, em relação ao respeito ao próximo. Isto já se pode ver de maneira imediata através de algumas ações que a AMB está realizando. Mas, é evidente que nós estamos dando nossa contribuição em relação às gerações futuras para que o Brasil tenha uma democracia plena, uma justiça social efetiva que atinja a todos indistintamente. É preciso que o cidadão se aproprie desses direitos e tenha consciência de que eles são legítimos. O cidadão deve buscar seus diretos através dos órgãos públicos e exigir da magistratura uma postura pró-ativa. Neste sentido, o projeto faz com que a população se torne mais colaboradora além de mais vigilante e compromissada com a geração que vem após eles. É um efeito dominó”.

Para Maria Valdenisa Bernardo, 3ª vice-presidente da Associação Cearense de Magistrados (ACM), iniciativas como a implementada em Boa Viagem são importantes para mostrar que a magistratura não se presta apenas a julgar. “A magistratura também tem uma responsabilidade social que pode ser vista quando ela se aproxima das pessoas. Então, projetos como este que são voltados para crianças e adolescentes trabalham um público multiplicador por natureza. Quando uma criança recebe uma informação, ela leva esta informação para casa, para a família e influencia outras gerações. Enfim, é uma cadeia que vai se espalhando. Por isso, a ACM enaltece a iniciativa e se coloca como apoiadora do projeto da AMB”.

Por fim, o juiz de Boa Viagem também pontua a necessidade de que o programa seja difundido pelo Estado: “Seria bom que outras cidades do Ceará vissem o programa e também adotassem. A possibilidade de esclarecer a população sobre as questões que permeiam a justiça deve começar na idade escolar e o conteúdo da revista em quadrinhos faz isso muito bem”, ressalta Pedro Pia.