Na noite do dia 13 de maio de 2008, nascia o pequeno Pedro e com ele uma nova mãe: a funcionária pública, Gecilda Correia Nunes que o recebeu em sua porta como um presente. “Eu me senti forte, aceitei o Pedro em minha vida. Eu precisava de um novo sopro, renasci e ganhei alma nova e outros motivos para recomeçar e cuidar de alguém que precisava de mim e de uma família”, disse enquanto lembrava com saudades do filho falecido, George. “Eu sei que o Pedro veio para me fazer feliz de novo. Não quero substituí-lo, colocá-lo no lugar do George. Cada um tem seu espaço no meu coração”.

Sobre as dificuldades encontradas, Gecilda fala da decisão de legalizar e formalizar a adoção desse pequeno e novo membro da família: “ele nem tinha um mês completo de nascido e fui logo para o Juizado resolver a situação e garantir nossa segurança. Com o registro formal de nascimento, e fugindo da ‘adoção à brasileira’, eu posso ter certeza de que o Pedrinho vai ter seu futuro garantido, vai ter direito a plano de saúde, a ser meu herdeiro. Eu tinha muito medo que a mãe de ‘sangue’ dele se arrependesse e viesse tirá-lo de mim. A decisão de fazer a adoção legal e consciente é a melhor maneira de preservar os laços entre nós dois. Eu já recebi a guarda provisória e estou muito ansiosa para ter a permanente. Aconselho todas as mães a fazerem a adoção legal”, afirmou mãe do Pedro, Gecilda Nunes.

Segunda fase da campanha
A adoção consciente é o foco da segunda fase da Campanha "Mude um Destino" realizada pela AMB (Associação dos Magistrados do Brasil) que foi lançada no Ceará, ontem, na Esmec (Escola Superior da Magistratura do Estado do Ceará). De acordo com Mozart Valadares, presidente da AMB, a Campanha pretende conscientizar a sociedade em geral com relação as crianças e adolescentes que vivem nos abrigos do País e erradicar a prática da adoção "à brasileira", atitude que dispensa todo o processo legal de adoção e considerado crime.

"Temos que discutir e debater este importante problema social que tem repercussão na cidadania e no fortalecimento da democracia brasileira", explicou Mozart. Ele relatou que a sociedade deve ter a consciência do porque destas crianças terem ido para os abrigos, em que condições elas vivem e como podem ser resgatadas.

O juiz e coordenador geral da Campanha, Francisco Oliveira Neto, explicou que o Cadastro Nacional de Adoção (CNA) já está sendo utilizado, entretanto, apenas em novembro o CNA estará totalmente completo. De acordo com o juiz, o casal interessado em adotar uma criança ou adolescente deve se encaminhar ao Poder Judiciário e, após os trâmites legais e entrevistas sociais realizadas por equipes interdisciplinares, seus nomes serão inseridos no Cadastro.

Oliveira Neto explicou que, de acordo com um levantamento realizado em 2005 pelo Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), 80 mil menores vivem em abrigos no Brasil e, destes, apenas 10% estão disponíveis para adoção. Com as novas iniciativas de incentivo como o CNA e a Campanha "Mude um Destino", a expectativa do magistrado é de que os processos de adoção se tornem mais rápidos e eficazes, fato que ele relata já estar acontecendo.

De acordo com o coordenador, o CNA potencializa a procura de casais por crianças e adolescente destitucionalizados do poder da família, tendo em vista que a pesquisa será em caráter nacional, e não apenas nos estados onde as crianças estão vivendo. Ele explica que o Cadastro dará uma maior dinâmica nos processos de adoção. “Se um casal de Santa Catarina não encontra uma criança em seu estado, poderão encontrar um filho em outro, de acordo com o perfil selecionado", exemplificou.

O juiz ressalta que estas medidas têm o objetivo, entre outras coisas, de preservar a criança, fazendo com que ele permaneça o menor tempo possível nos abrigos. "As crianças institucionalizadas estão à margem da sociedade, vivendo quase que na obscuridade.

Temos que pensar no sofrimento delas e fazer com que estas crianças tenham uma vida digna dentro de um ambiente familiar”.


PASSO A PASSO DA ADOÇÃO

» No primeiro momento, os interessados procuram a Vara da Infância e da Juventude mais perto de casa.
» Eles passam por uma entrevista.
» Apresentação dos documentos necessários (RG e comprovante de residência)
» Assistente social vai até a casa do adotante para conhecer melhor a rotina deles.
» Depois disso, é iniciado o processo de escolha da criança.
» Feito isso, se for o caso, é dada a guarda temporária da criança para o adotante.
» Esse é o período de experiência e de avaliação, se o adotante for aprovado, é ‘iniciado’ o processo na Justiça
» Tudo se encerra com a sentença do juiz aprovando ou não a adoção.
Mais informações sobre adoção consciente: http://www.adocaobrasil.org/.
» Os pais podem procurar o Cadastro de Adoção no telefone – 085-3278-1128 ou se encaminhar ao Fórum Clóvis Bevilácqua na Avenida Desembargador Floriano Benevides, 220, Edson Queiroz.