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Onde devemos estar – Artigo da Desembargadora Iracema Vale,  publicado na edição de hoje, 08 de março, do jornal O Povo.

Quinze mulheres fazem parte da corte judicial mais importante do Ceará. Quinze dentre 43 membros. Somos 34% dos desembargadores do Tribunal de Justiça. Dentre os juízes, somos 151 dos 420. O equivalente a 35%. Pode parecer um número pequeno para quem não o enxerga na minucia. Mas é algo sem precedentes. Nunca o TJCE teve tantas mulheres desembargadoras atuantes. E pela segunda vez nos seus 142 anos de história, uma mulher preside o Judiciário cearense.

Cabe a mim exercer essa nobre função. Por isso, não posso me furtar de uma reflexão pública importante. Ainda são poucas as mulheres em cargos de destaque no nosso país. Eu e minhas 14 colegas desembargadoras somos, infelizmente, exceção. Assim como o sexo feminino é minoria na política.

O Brasil tem menos mulheres no Congresso Nacional do que países como Etiópia, Uganda, Afeganistão, Paquistão, Arábia Saudita, Marrocos e Coreia do Norte. Na Câmara Federal, nós somos apenas 9%. No Senado, somente 13%. Num ranking de 190 países, ocupamos o 116º lugar na quantidade de mulheres parlamentares.

É pouco. A cultura patriarcal e machista só vai diminuir quando nós, mulheres multitarefas dos dias de hoje, estivermos também em espaços de poder. Quando conquistarmos lugares para a tomada de decisões e formos remuneradas no mesmo patamar dos homens.

Questões de gênero não podem mais ser parâmetro para o sucesso ou o fracasso de um sujeito, seja ele quem for e venha de onde vier.

Homens e mulheres devem unir-se. Porque, afinal, ser homem ou mulher, a anatomia em si, é o que menos nos torna diferentes. O que nos difere de fato é o modo como nós enxergamos a vida e nos posicionamos nela.

Por isso, o meu reconhecimento ao valor das 14 colegas desembargadoras e 151 juízas por terem lutado para estar onde estão. E a minha enorme gratidão a todas as servidoras do Judiciário cearense. Saibam que vocês são fundamentais para o bom funcionamento da Justiça. E que espero que tenham em mim alguém que vai sempre defender os direitos da mulher, esteja eu presidente ou seja eu provocada a me colocar enquanto cidadã.

Iracema Vale
[email protected]
Desembargadora e presidente do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE)