Na véspera do Dia das Mães, a Associação Cearense de Magistrados (ACM) destaca histórias de adoção tardia mediadas pela juíza de direito Kathleen Nicola Kilian, titular da 1ª Vara da Comarca de Quixeramobim. Esses relatos ganham ainda mais peso quando se verifica que no Brasil, apenas 2% dos pretendentes à adoção escolhem tomar como filhos crianças e adolescentes de 10 a 18 anos.

o último dia 29 de abril, já havíamos noticiado acerca de uma decisão da magistrada que autorizava um casal a fazer uma visita guiada à Unidade de Acolhimento de Quixeramobim para estreitar laços afetivos com dois irmãos, de 13 e 15 anos. Hoje, trazemos também a história de Ângela Julião, formada em Serviço Social, e Josely Julião Júnior, tenente-coronel da Polícia Militar, que adotaram duas irmãs: a Cicera Kalleany e Maria Eduarda. Na época, elas tinham 14 e 15 anos, respectivamente.

O casal já tinha dois filhos biológicos e um adotivo, mas queriam ampliar a família, que vivia em Tauá. Para isso, eles se cadastraram no Sistema Nacional de Adoção (SNA), em 2017. No ano seguinte, eles foram chamados para conhecer a Unidade de Acolhimento no município de Quixeramobim quando conheceram as adolescentes.

“A Dra. Kathleen ligou um dia para mim avisando sobre a possibilidade de visitá-las. Depois disso, o trâmite durou mais ou menos dois meses. Nós queríamos adotá-las e elas queriam nos ter como pais, tanto que chegaram a recusar outro casal que também pretendia tê-las como filhas”, relembra Ângela.

“Nosso processo foi todo legalizado. Tudo no seu tempo! Graças a Deus, hoje, as meninas estão com a gente! Elas têm um lar, uma casa, irmãos e tentamos a cada dia suprir aquele amor que não tiveram no passado. Cada dia é uma nova conquista, um recomeço de tudo”, comemora.

“Quando há amor, cuidado e respeito, temos tudo. Eu só tenho a agradecer e falar que somos muito felizes com as duas. Esse momento foi único na nossa vida. Quero agradecer a todos que fizeram parte desse trâmite, desse processo, principalmente à Dra. Kathleen”, enfatiza.

Maria Eduarda, hoje com 16 anos, relata que está “muito feliz por ter conseguido realizar um dos meus maiores objetivos que era ter um lar, irmãos, pessoas para me apoiar em momentos bons e ruins”. Ela e a irmã vivem em Massapê e estudam em Sobral.

Amor e esperança

Para a juíza de direito Kathleen Nicola Kilian, “casos tão bem sucedidos de realização de adoções por intermédio da atuação da Justiça da Infância e da Juventude, suscitam os melhores sentimentos possíveis: há esperança, há amor’.

Ela acrescenta que, nesse processo, tanto pais como filhos amadurecem esses laços afetivos juntos. “Ambos se sentem privilegiados, é recíproco, não é somente uma criança ou adolescente que alcança seu direito a convivência familiar, com todo cuidado e respeito envolvido, mas também os pretendentes que descobrem e desenvolvem toda uma potencialidade de amar”, observa.

A magistrada comemora também o sucesso na adoção de duas irmãs que viviam na Unidade de Acolhimento de Quixeramobim (de iniciais E e V) e tinham 1 e 4 anos, respectivamente. Elas foram adotadas por um casal de Limoeiro do Norte. A mãe das meninas (de inicial F), preferiu não se identificar, mas concordou em falar sobre o processo de adoção. Ela é agricultora e conta que sonhava em ter uma filha, após ter gerado biologicamente dois meninos.

“Desde que começamos até conseguir adotar foram 6 anos de espera. Naquela época o cadastro não era nacional ainda, tinha que ser feita no município. Tivemos uma primeira tentativa de adotar uma menina, mas que não deu certo. Após algum tempo, recebemos a visita da psicóloga do Fórum querendo saber se eu ainda queria adotar e informando que o cadastro passaria a ser nacional”, relembra.

“Recebemos uma ligação do Fórum de Limoeiro do Norte informando que em Quixeramobim tinha duas meninas aptas para adoção. Aí vieram nossas filhas, na época uma tinha 4 anos e a outra 1 ano. Chegando na Unidade de Acolhimento fomos muito bem recebidos. O processo durou três meses. A adaptação das crianças foi ótima e somos muito felizes. Hoje, elas têm 3 anos e 6 anos, respectivamente”, sintetiza.

“Nos dois casos, os pretendentes à adoção, devidamente inseridos no Sistema Nacional de Adoção e vinculados aos acolhidos insertos legalmente no Cadastro tinham uma especificidade que muito me sensibilizou. Tratavam-se de famílias que já tinham seus próprios filhos”, ressalta a titular da 1ª Vara da Comarca de Quixeramobim.

Por fim, a magistrada afirma que também está mobilizada para possibilitar a adoção de um grupo de quatro irmãos, com idades entre 8 e 17 anos, recém-inseridos na condição de aptos à adoção no SNA.

“Eles estão aguardando ser o sonho de uma família interessada e realizar o sonho deles também de convivência familiar”, conclui.