Iracema do Vale

Presidente do Poder Judiciário do Ceará

Vivemos mais um 8 de março. Data nascida da força da mulher. Da luta e da morte de milhares mundo afora e Brasil adentro em busca de condições dignas de trabalho. De vida. De espaço para além dos afazeres domésticos e da subjugação masculina. De (re)conhecimento. De direitos iguais entre gêneros.

Assim como nas casas políticas, a mulher precisa ocupar ainda mais espaço no Judiciário brasileiro e cearense. Em 140 anos, apenas duas mulheres chegaram à presidência do Tribunal de Justiça do Ceará (TJ/CE). Quase um século e meio de avanços que poderiam ter sido maiores. Mas que marcaram épocas e vão continuar sendo ampliados. Porque não podemos e não vamos retroceder.

Os números provam isso. Até o fim da década de 1960, 97,7% dos magistrados brasileiros eram homens. Ou seja: as mulheres não chegavam a 3% dos cargos. Trinta anos depois, na década de 1990, éramos 11% do total. Quinze anos após, já somos 30%. Em alguns ministérios públicos, ultrapassamos a casa dos 40%. Quando se leva em conta as defensorias públicas estaduais, há unidades da Federação no limiar dos 50%.

Somos uma parcela que tende a aumentar, segundo estudiosos jurídicos. Por isso, ocupar o cargo máximo do Judiciário cearense me é tão simbólico; enervado de responsabilidades. E não só com as mulheres. São responsabilidades com o povo do meu Estado. Porque defender e lutar por direitos igualitários é desejar uma sociedade mais sadia. Mais fraterna. Menos centralizadora. Mais justa. Mais cheia de si.

Enquanto representante de um Poder tão necessário ao nosso sistema democrático, quero ser parte da construção de uma sociedade pautada pela valorização do ser humano na sua essência/qualificação, e não pelo gênero com o qual cada um se identifica. E defendo isso não apenas como pessoa física, mas principalmente como integrante de um coletivo comprometido com a causa igualitária. De um Judiciário cearense que almeja um Estado melhor, mais eficiente. De um Judiciário brasileiro que, desde o fim da década de 1960, viu aumentar em 1.204% a quantidade de magistrados do sexo feminino.

Tem apenas 83 anos que o voto feminino passou a existir no Brasil. Somente 24 anos que o poder Judiciário brasileiro teve sua primeira ministra nomeada por um presidente. E só cinco anos que uma mulher passou a ocupar a presidência da República, eleita pelo voto direto. Conquistas que representam uma piscadela na história da humanidade. Mas cuja relevância ninguém há de mensurar para baixo. Afinal, somos maioria tanto do eleitorado quanto da população do país.

Tanto quanto é inegável a obrigação de abrirmos oportunidades mesmas para quaisquer gêneros é a importância de termos homens e mulheres trabalhando lado a lado, como parceiros. Sendo reconhecidos. Ocupando cargos de chefia por merecimento. Recebendo salários equivalentes. E, por tudo isso, cumprindo seus ofícios com vontade. Visando dias ainda mais igualitários. Com a consciência de que cada um, independente de gênero, é parcela importantíssima para o todo. No Judiciário ou fora dele.

 

Fonte: O Povo