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Debate visou garantir o incremento de recursos destinados ao Poder Judiciário na LDO

Por iniciativa da Associação Cearense de Magistrados (ACM), a necessidade de elevação do orçamento do Poder Judiciário para 2017 foi tema de audiência pública na quinta-feira, 16 de junho, no Complexo de Comissões Técnicas Deputado Aquiles Peres Mota, da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (ALCE). A categoria compareceu com grupo expressivo de 70 juízes e debateu com deputados estaduais e representantes do Poder Executivo, do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJCE) e de outros operadores do Direito. A audiência resultou de requerimento da ACM e de conversas da diretoria da entidade com vários líderes partidários, que demonstraram apoio.

O objetivo da ACM é assegurar a elevação dos recursos destinados aos serviços de justiça por meio de modificação na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), pois o orçamento do Judiciário faz parte do orçamento do Poder Executivo estadual, estabelecido nessa lei. A LDO deve ser votada até 30 de junho.

Na ocasião, o presidente da ACM, juiz Antônio Araújo, expôs a situação de precariedade, pontuando as necessidades. “Os fóruns funcionam em instalações inadequadas. Muitos servidores do interior são cedidos pelas prefeituras. Não há investimento em segurança para os magistrados ameaçados e não há recursos em tecnologia da informação adequados. O setor, hoje, funciona com um equipamento cedido pelo Banco do Nordeste”. Problemas que, de acordo com o magistrado, “são consequência da grave crise financeira pela qual passa o TJCE e que afetam a qualidade da prestação jurisdicional, prejudicando a sociedade”.

O secretário de finanças do TJCE, Alex Araújo, disse que a corte adotou uma postura de redução de custos em diversas áreas, mas que, ainda assim, é difícil gerir os recursos disponibilizados devido à insuficiência. “Recebemos orçamento inferior à despesa, que já está comprometida para o ano”, afirmou.

“Os Poderes devem ser harmônicos e independentes. Se não houver autonomia financeira, não há independência”, afirmou a 1ª secretária da ACM, juíza Ana Cleyde Viana. “As dificuldades financeiras nos impedem de avançar e de melhorar a prestação jurisdicional”, ressaltou. A magistrada citou como reflexo da precariedade o acúmulo de processos, que culmina na cadeia de cobranças das partes, nas metas estabelecidas pelo tribunal e pelo Conselho Nacional de Justiça. Outra consequência mencionada foi o comprometimento da saúde dos juízes.

Duodécimo
Ana Cleyde sugeriu como solução que seja fixado e destinado ao Judiciário o duodécimo. A proposição se ampara no artigo 168 da Constituição Federal, que garante aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública receber recursos correspondentes às dotações orçamentárias, em duodécimos, até o dia 20 de cada mês.

Por outro lado, a coordenadora na Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado do Ceará (Seplag), Naiana Correa, disse que o Estado passa por momento de dificuldade, não sendo possível atender às necessidades ideais de todos os Poderes. De acordo com Naiana, “não há receita suficiente e o Poder Executivo tem que ter responsabilidade fiscal, de ver a previsão de receitas para poder comportar as despesas”.

O planejamento orçamentário do TJ enviado ao governo anualmente foi abordado pelo juiz Hercy Alencar. “O TJ não deve mandar o que o Executivo quer que mande. O orçamento do Judiciário não deve ser cortado pela Seplag. Somos Poder Judiciário, não somos secretaria de governo”, assinalou. O magistrado cobrou, ainda, uma promessa que o governador Camilo Santana lhe fez no período da campanha eleitoral, durante visita à ACM. “Perguntei ao governador se ele pretendia tratar o Judiciário como uma secretaria, assim como fizeram os outros governadores. Ele disse que não. Que pretendia tratar como Poder. E agora está fazendo o mesmo”. O juiz conclui a manifestação com uma indagação: “A quem interesse um Judiciário de joelhos dobrados?”.

O diretor administrativo da ACM, juiz Daniel Carneiro, destacou a produtividade dos magistrados cearenses, que se sobressai nacionalmente mesmo diante dos problemas enfrentados pelo TJCE e apontou a ausência de investimentos, devido aos poucos recursos financeiros, como motivo para a precariedade existente. “Cortamos para manter o pouco que se tem”, lamentou. “Não se pode continuar com esse modelo perverso”, acrescentou.

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Cerca de 70 de juízes estiveram presentes na audiência pública

Múltiplas vozes
Em defesa da destinação de mais recursos para o orçamento do Poder Judiciário tornando possível melhorar a qualidade da prestação jurisdicional, também falaram os juízes José Krentel, Luiz Roberto Oliveira, Mauro Feitosa, Pedro de Araújo e Rita Emília de Carvalho.

Relatando que o orçamento destinado ao TJCE está abaixo da média nacional, a deputada Fernanda Pessoa disse que a corte recebe apenas 5,7% da receita corrente líquida do Estado. Já o deputado Renato Roseno destacou a necessidade de um Judiciário moderno, transparente, ágil e acessível à sociedade. O parlamentar ressaltou que “essas são demandas democráticas. Isso é mais importante que uma ponte de 500 milhões ou um aquário de 450 milhões”, avaliou. Diante das exposições, o líder do PMDB, deputado Audic Mota, afirmou que se reunirá com demais parlamentares para elaborar uma minuta de Proposta de Emenda à Constituição (PEC) com a finalidade de solucionar o problema.

“Hoje é um dia muito feliz para mim, além de ser um dia histórico para magistratura e o Poder Judiciário, que padece de inúmeras dificuldades oriundas da falta de recursos. Estamos saindo daqui com encaminhamentos práticos e efetivos”, declarou o presidente da ACM, ao final da audiência.

Entre os últimos pronunciamentos, o presidente da mesa, deputado Roberto Mesquita destacou o empenho da ACM, na pessoa do presidente da entidade. “Araújo, a sua luta nos inspira e tem feito grandes transformações”, afirmou o parlamentar.

Compuseram a mesa e fomentaram o diálogo: o presidente da ACM, juiz Antônio Araújo; o vice-presidente da ACM e diretor do Fórum Clóvis Beviláqua, José Maria dos Santos Sales; a 1ª secretária da ACM, juíza Ana Cleyde Viana; os deputados Audic Mota, Fernanda Pessoa, Renato Roseno e Roberto Mesquita; a coordenadora da Seplag, Naiana Correa; o secretário de Finanças do TJCE, Alex Araújo; o secretário de Planejamento e Gestão do TJCE, José Joaquim Neto Cisne; representando a presidente do TJCE, o juiz auxiliar da presidência, Luciano Lima; o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – Secção Ceará, Marcelo Mota; o diretor do Sindicato dos Oficiais de Justiça do Estado do Ceará (Sindojus-CE), Mauro Xavier.