justiça_restaurativa_howard_zehrA longa experiência e o vasto conhecimento do professor Howard Zehr com a Justiça Restaurativa levaram centenas de pessoas a acompanhar sua palestra, na manhã desta sexta-feira (20). Zehr falou para o público presente no auditório do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) e para os espectadores espalhados em 23 estados brasileiros, por meio de 67 pontos de transmissão via internet.

O evento marcou as comemorações de 10 anos da prática restaurativa no Brasil, que foi adotada de forma pioneira pelos estados do Rio Grande do Sul, Distrito Federal e São Paulo. Howard Zehr foi apresentado pelo juiz paulista Egberto Penido e pelo coordenador da Justiça Restaurativa do Brasil – A Paz Pede a Palavra, Leoberto Brancher.

Espirituoso, o professor norte-americano destacou o empenho de Brancher para trazê-lo ao Brasil. “Tenho que agradecer ao Leoberto pela sua persistência, porque em seu primeiro contato eu disse não. Me sinto honrado de estar de volta ao Brasil depois de oito anos”, disse.

Zehr começou falando sobre o desenvolvimento da prática no mundo. “Nos últimos 30 anos, é incrível ver o que está acontecendo com a Justiça Restaurativa”. Sobre o Brasil, apesar de não ter um conhecimento profundo, ele considerou inspirador o que tem visto e lido.

“Vejo que aqui no Brasil vocês estão implementando com planejamento, criatividade, usando de projetos-piloto e envolvendo a comunidade. Estou impressionado, especialmente porque o país está enfrentando desafios e dificuldades e econômicas e sociais. Por isso, eu os encorajo a dividir sua experiência com o mundo”, celebrou.

Zehr fez provocações aos ouvintes, dizendo que, para expandir a JR, é preciso “pensar fora da caixa, fora da nossa cultura, do nosso modo habitual”. O professor reforçou que a JR não objetiva o perdão, ao contrário do que pensam muitas pessoas. “A Justiça Restaurativa é essencialmente sobre respeito”.

A Justiça Restaurativa começou com vítima e ofensor conversando, falando dos impactos na vida de cada um, até chegarem a um tipo de acordo. Hoje também existem as formas de conferências em grupos – que envolvem familiares e diversos atores relacionados ao dano – e os círculos restaurativos – que abrangem as comunidades.

Usando a criatividade, desenvolveu-se uma outra prática, que não envolve necessariamente os atores diretos. Ele citou o exemplo de um atentado terrorista em Oklahoma, nos Estados Unidos, na década de 1990, que deixou mais de 100 mortos. “Os parentes das vítimas queriam informações, mas não aquelas que constam no processo. Queriam saber o que seus familiares estavam fazendo naqueles lugares, quais foram suas últimas palavras. Eles também queriam contar suas histórias. As vítimas precisam falar do que aconteceu para recomeçarem suas vidas. Precisam sentir que estão no controle de suas vidas de novo e abandonar a sensação de desonra de ser vítima. Isso está fora do sistema legal”, disse.

“A Justiça Restaurativa está baseada em três pontos: o dano e os envolvidos, a responsabilidade e as obrigações, e os relacionamentos. Não vivemos isolados, por isso precisamos ter uma consciência de comunidade. Quem foi ofendido? O que precisa? Quais são as causas? Que processos são necessários para resolver isso?”, explicou Zehr.

Para falar sobre seu sonho, o professor citou o exemplo da Nova Zelândia, onde a cultura restaurativa é prioridade em todas as situações, e as Cortes são deixadas em segundo plano. “Precisamos praticar a empatia e o diálogo. Meu sonho é termos um sistema de Justiça no qual advogados ajam no sentido de resolver problemas, sejam aqueles que curam, em vez de se digladiarem. Precisamos pensar na melhor solução para as partes envolvidas e ouvir as comunidades”, finalizou.

Howard Zehr ainda respondeu perguntas do público antes de fechar a palestra.

 

Fonte: AMB