O juiz federal da Seção Judiciária de Sobral, Marcos Mairton da Silva, terá livro infantil de sua autoria adotado para fins didáticos em escolas do ensino fundamental. O livro escrito em poema de cordel “Um sapo dentro de um saco” será um dos vinte títulos que irão compor o projeto Fábrica de Leitores, que visa auxiliar professores a incentivar à leitura os alunos, entre seis e oito anos de idade, da rede estadual de ensino dos municípios de menor desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB. O projeto Fábrica de Leitores é uma promoção da Fundação Demócrito Rocha, Ministério da Cultura e Secretaria de Educação do Estado do Ceará.
Quando perguntado sobre o início do interesse pelo poema de cordel, Marcos Mairton se remete a uma tenra infância em que, aos três anos de idade, já alfabetizado, teve o contato com a leitura dos primeiros versos. Escrever, só um pouco mais tarde, aos doze anos, sob influência da tradicional brincadeira do testamento de Judas. “Por volta dos meus doze anos, eu fui ajudar o pessoal a fazer o testamento do Judas, que era todo em verso, e aí todo mundo se espantou com a facilidade e a velocidade com que eu fazia os versos, e como ficavam bem feitos”.
O caminho para as primeiras publicações, no entanto, seria entremeado por muitos experimentos com as métricas e rimas dos versos populares. Marcos Mairton conta que chegou, inclusive, a fazer resumos de aulas, quando lecionou na universidade, em forma de cordel. Em 2002, já na condição de juiz federal, emitiu toda uma sentença obedecendo o rigor das setilhas (modalidade de cordel que apresenta sete versos, cada qual com sete sílabas), um dos estilos preferidos do autor.
No ano de 2005, Marcos Mairton publica o seu primeiro folheto, intitulado “O advogado, o diabo e a bengala encantada”. De lá pra cá, são três folhetos publicados e três livros, sendo dois voltados para o público infantil, a exemplo de “Um sapo dentro de um saco”. De sua imersão no mundo da literatura infantil, Mairton diz ter sido uma coincidência e até uma surpresa, pois nunca imaginou escrever para crianças.“Eu estava participando de uma feira do livro em Mossoró, para divulgar meu primeiro livro, quando fui apresentado a um editor que perguntou se eu não escrevia para crianças. Eu disse que tinha uma história na cabeça, mas não tinha passado para o papel. Ele então disse que quando tivesse escrito entrasse em contato. Numa única noite escrevi ‘Uma aventura na Amazônia’, meu primeiro trabalho para crianças”.
Para Marcos Mairton, as tarefas de magistrado não são nenhum empecilho para sua atividade como cordelista. Pelo contrário, apesar das dificuldades de conciliar o tempo de trabalho com o da criação dos versos, a magistratura serve muitas vezes de inspiração, por possibilitar o contato permanente com histórias da vida real. “Nós vemos muitas coisas na atividade de magistrado: a vida das pessoas, os dramas pessoais, que acabam virando história. Às vezes viram histórias os próprios casos que presencio, às vezes somos inspirados pelas histórias que nos contam e servem para elaborarmos outros cordéis”, completa.